O início de um novo ano letivo está aí, e com ele volta a rotina das deslocações em torno das escolas.
O aumento significativo de deslocações — de alunos, encarregados de educação, docentes e demais profissionais — e os constrangimentos no trânsito, a segurança, a promoção da autonomia das crianças, e a necessidade de adotar modos de transporte mais sustentáveis, exigem uma resposta coordenada que privilegie a segurança rodoviária, a fluidez do trânsito e a sustentabilidade ambiental.
É fundamental reforçar a importância de um planeamento eficaz da mobilidade nas imediações dos estabelecimentos de ensino. A promoção de modos ativos de transporte e o uso do transporte público, aliados a práticas responsáveis de condução nas zonas escolares, contribui para:
- A redução do risco de acidentes, sobretudo envolvendo utilizadores vulneráveis;
- A diminuição da emissão de gases poluentes e do ruído;
- A criação de um ambiente mais saudável e acessível para toda a comunidade educativa.
É fulcral planear a mobilidade (e o espaço público) de forma a incentivar os mais jovens à autonomia e à adoção de hábitos de mobilidade sustentável.
Neste sentido, o planeamento urbano inclusivo surge como uma urgência: os espaços públicos e redes de mobilidade devem ser acessíveis e seguros para todos os cidadãos, incluindo as crianças — frequentemente desconsideradas nas decisões de planeamento. A integração das necessidades das crianças, sobretudo ao nível da mobilidade, contribui para cidades mais seguras, sustentáveis e humanizadas. Cidades amigas das crianças promovem a mobilidade ativa, reforçam a coesão social e reduzem a pegada ambiental, beneficiando toda a comunidade.
O desenho urbano centrado nas crianças vai além da acessibilidade e da funcionalidade tradicional. Reconhece as crianças como utilizadoras independentes do espaço urbano, com necessidades próprias de mobilidade, perceção sensorial e relação com o espaço, valorizando não só a sua segurança, mas também o conforto, a liberdade de movimento, o envolvimento com o ambiente e as oportunidades de brincar — elementos essenciais ao seu desenvolvimento físico, emocional e social.
Várias cidades por toda a Europa já integram estes princípios nos seus planos de mobilidade e desenho urbano, demonstrando que um ambiente pensado para as crianças é, inevitavelmente, melhor para todos:
- Paris tem sido um exemplo na promoção da mobilidade ativa e do conceito da “cidade dos 15 minutos”. Uma das iniciativas-chave é o programa Rues aux Écoles, que transforma ruas junto a escolas em zonas livres de trânsito automóvel, temporária ou permanentemente, promovendo a circulação pedonal e ciclável. Estas áreas são também requalificadas com vegetação, contribuindo para o bem-estar das crianças e a redução do efeito de ilha de calor urbano. Trata-se de uma estratégia integrada que reforça a segurança, a sustentabilidade e a qualidade de vida no espaço urbano.
- Em Barcelona, o projeto Superblocks (Superilles) de Barcelona é um exemplo de transformação urbana voltada para as crianças, ao restringir o tráfego de carros em determinados quarteirões e devolver o espaço aos pedestres e ciclistas, criando áreas seguras com praças, parques e vegetação. Em 2020, a iniciativa Protegim les escoles priorizou os arredores de escolas para garantir espaços públicos saudáveis e acolhedores, com a meta de beneficiar todas as 585 escolas da cidade até 2030. Nesse contexto, surgiu o projeto FURNISH, que entre setembro e dezembro de 2021 instalou elementos urbanos móveis em frente a duas escolas públicas, reunindo universidades, centros de pesquisa e a câmara municipal para ampliar a criação de ambientes infantis seguros e comunitários.
- Liubliana, a capital da Eslovénia, transformou o seu centro ao restringir quase totalmente o tráfego de carros desde 2007, tornando-o pedonal e seguro para crianças se deslocarem de forma independente. A cidade investiu em calçadas largas, ciclovias e espaços verdes que incentivam atividades ao ar livre e encontros comunitários, fundamentais para o desenvolvimento infantil. Para garantir acessibilidade, oferece ainda o Kavalir, um serviço gratuito de minibus elétrico destinado a quem precisa de apoio extra de mobilidade.
- Bratislava adotou uma abordagem ampla para se tornar mais amiga das crianças, impulsionada por iniciativas como a conferência Start with Children, que reúne líderes para repensar cidades e mobilidade infantil. Em parceria com o Instituto Metropolitano de Bratislava, a câmara municipal e a UNICEF, o projeto City for Kids criou ruas mais seguras em torno de escolas, com ciclovias, travessias protegidas e zonas de embarque e desembarque, beneficiando 7.700 crianças em 20 escolas. Estas ações integram o plano estratégico Bratislava 2030, que incorpora o planeamento urbano inclusivo em grandes investimentos urbanos, reforçando benefícios para toda a população.
Planear a mobilidade e as cidades a partir das necessidades das crianças transforma ruas em espaços seguros, acessíveis e vivos para todas as idades, promovendo uma mobilidade sustentável e qualidade de vida urbana.
Mais informações em Mastering mobility with child-friendly mobility planning – EIT Urban Mobility